quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Crônica: Esgano sussurrado

Estou escrevendo uma crônica sobre a Greve dos Excluídos ('Papagaio de prédio' é seu título') e na pesquisa encontrei esta linda ária da  operística "Il Trittico" (Gianni Schicchi) de Puccini, na interpretação de Maria Callas em 1965: "Oh Mio Babbino Caro". Doce e comovente. Um 'esgano sussurrado'.

O Mio Babbino Caro

O mio babbino caro,
mi piace è bello, bello;
vo'andare in Porta Rossa
a comparar l'anello!
Sì, sì, ci voglio andare!
e se l'amassi indarno,
andrei sul Ponte Vecchio,
ma per buttarmi in Arno!
Mi struggo e mi tormento!
O Dio, vorrei morir!
Babbo, pietà, pietà!
Babbo, pietà, pietà!


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Crônica: Ao luar

 Ao cair do luar a escuridão a cerca. O seu mundo se definha em breu e ela segue a passos firmes em busca de sua eternidade. Ao cair da noite o lobo deixa sua alcova e cristaliza seus olhos com a luz que recebe em busca de sua presa. Ao cair do luar a moça branca como sua inocência, ruiva como a sua paixão, clama por destino. E o lobo se aproxima com um silvo brando de terror entre seus caninos. A lua é testemunha, ou cúmplice; ela esconde, ou revela o tombo daquela que se encontrou com Tânato, lindo, barba por fazer, perfume cítrico e dentes que a ceivam ao cair do luar...

Na noite de hoje (8 de agosto), na novela Amor à vida, a personagem Nicole, antes de morrer, insistiu em ouvir uma música, seja ao lado de Lídia, seu amor materno, seja próxima a Thales, seu amor ilusório. A melodia é Clair de Lune, de Debussy. A sonata foi composta em 1905 como parte da suíte Bergamasca e imortalizou o francês Claude Debussy entre os maiores compositores de todos os tempos.
Pra quem não conseguiu ouvir toda a música na novela, deixo essa versão de Stasa Mirkovic Grujic para se encantar no doce toque de uma harpa.

 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Crônica: Calaram-se para sempre


Numa mala, o peso de seus sonhos está guardado em um compartimento menor. No outro espaço, um pouco maior e mais pesado, estão dobradas suas culpas. Poderiam estar amassadas, mas as guardou como se tivesse sido cuidadosamente engomadas. E no fundo dessa mala, embaixo de tudo, meio que escondido, uma necessaire com suas boas realizações. Agora a bagagem vai balançando e se misturando com o impacto seco das rodinhas na calçada irregular da Avenida Iguaçu. A sua frente vai a dama que um dia foi de esquina e que neste momento segue de uma dobra de rua à outra pelo menos duas vezes.
Para. Espera. Olha para os lados e vê portões fechados. Vira-se para pista, os carros são rareados. Abaixa a cabeça, depara-se com a calçada descascada. Por fim, evita recorrer ao céu.
Um veículo passa buzinando forte. Não é paquera. É gozação. Ela não dá bola. Ajeita o laço branco no cabelo, que revela o bracelete igualmente off white. Dou-me conta que ainda não havia visto o buquê, tampouco as alianças.
É uma lástima. O dia estava ensolarado e propício para o casamento. Ou para uma fuga. À distância, se percebe que o vestido é carente, antigo, todavia, bem guardado. Mas, assim como a mala, já traz em sua aparência o enrugado de uma vida que se encontrava nos momentos de desencontro.
Ela cria coragem e atravessa a rua como a noiva que atravessa o ‘salão’ da igreja em busca do altar. Só que para ela o que a espera é o outro meio fio que leva a outra rua, a outra esquina, a outro bairro, a outro canto dessa cidade. Foi-se. Eu, que fiquei, ainda procuro por uma madrinha que se atrasou. Ou pelo noivo que mudou de ideia. Ou pelo pastor que foi pago para selar essa união. Ninguém aparece. Acho que todos calaram-se para sempre.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Poema: Mágoa

Mágoa

- O ressentimento não é uma lousa que se risca e depois desfere com apagador.
A mágoa é papel carbono