segunda-feira, 15 de junho de 2015

As coisas em seus lugares

As coisas em seus lugares

1.
Uma cadeira de balanço
sustenta um corpo
em que as idéias foram
encobertas por uma manta

Uma cadeira
Uma cadeira de balanço
Descanso

terça-feira, 9 de junho de 2015

O dedo na ferida

 A minha crônica utilizará esta imagem. É um quadro de Caravaggio. Chama-se A incredulidade de São Tomé. Uma pintura do século XVI (1599). Portanto, antes do Iluminismo. A representação é forte e questiona a Igreja, extremamente poderoso e obscura. É um realismo muito intenso.

Uso esta pintura de exemplo para comparar ao personagem crucificado na Parada da Diversidade, em São Paulo. Ambas de um realismo perturbador. E esse é um dos papéis da arte. Chocar. Provocar o debate. Tirar a sociedade da zona de conforto.

A representação do travesti crucificado no lugar de Jesus é brilhante. Ainda mais porque é arte viva. É carne, osso e silicone. Traz em si também o grande debate que permeia nossos tempos. Personagens religiosos cada vez mais caricatos e preconceituosos. Tal qual os carolas do século XVI. "Pensadores" cada vez mais preocupados em fazer a faxina social do que promover a solidariedade.

Do outro lado, assim como foram os cientistas, os burgueses, aqueles que não pertenciam e questionavam o clérigo, são atualmente os homossexuais perseguidos, agredidos. São esses os escolhidos como personagens a serem excluídos da nossa convivência, como um dia foram as mulheres, como um dia foram os índios, como um dia foram os índios. Por isso, a crucificação é tão reveladora. Porque desnuda. Revela na medida em que a representação é combatida com ódio e insulto e não com compreensão.

O movimento colocou o dedo na ferida. Colocou o dedo no âmago da sociedade que pode optar por queimar ou por perdoar o que sequer precisa ser perdoado, apenas aceito.