segunda-feira, 14 de julho de 2014

Resenha: O poder nosso de cada dia

 O século 20 presenciou o apogeu das sociedades disciplinares, que organizaram grandes sistemas de confinamento do qual o indivíduo nunca escapa, mas passa de uma área para outra, da família para a escola, da escola para o trabalho, e assim por diante. Mudanças sociais que iniciaram no século 18 e se desenvolveram no século 19.

Já o século XXI não ampliou a liberdade dos indivíduos, grupos e movimentos sociais. Pelo contrário, o excesso de exposição e monitoramento tem se ampliado através das câmeras, de espionagem etc. Um reflexo disso pode ser visto após as manifestações em 2013 e 2014 quando os governos, ao invés de respeitar a vontade de protestar, usaram seus aparelhos para reprimir e, agora, cercear o direito de protesto. Neste sentido, o clássico da literatura filosófica pode ser um bom elemento para entender como os organismos agem.

Ficha Técnica
FOUCAULT, Michel
Editora: GRAAL
ISBN: 8570380747
ISBN13: 9788570380746
Edição: 23ª Edição - 2007
Número de Páginas: 296
Acabamento: BROCHURA

Formato: 14,00 x 21,00 cm.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Poema: Faixa de Gaza



Faixa de Gaza
Corre em sua bandeira o sangue,
escorre sobre sua história a vergonha
cobre sua moral a amarga cinza

O leite, à criança, é escasso
A lágrima não se abranda
A separação se faz presente
Assim como o divórcio da tolerância

A esperança é uma navalha
que pode aparar os excessos
ou degolar os desatinos

Tudo depende da mão
que se estende ao adventício
ou prefere apertar o gatilho

E no próximo horizonte,
antes que o flamejante arrebol ceife vidas,
que os ventos ceivem o cessar fogo

11 julho 2014 – Manolo Ramires


domingo, 6 de julho de 2014

Alea iacta est

 A Alemanha que me perdoe, mas esse jogo está no papo. O Esquadrão Dourado vence a República de Rienzi e ainda supera seu próximo adversário. Como sei disso? Bati os tambores, ajudado pelos orixás, para os deuses do futebol. Eles declararam estar envergonhados. Disseram que em 1950 não foi tragédia que se chocou no Maracanã, mas maldade. Não tinham nada contra o povo das matas e encantos mil, de gente alegre e trabalhadora. Só uma ponta de inveja com o crescimento que estava no porvir. Por isso, para o país que traz a constelação e suas riquezas no pendão, deram o castigo como contrapartida ao bom agouro.

Há que se ter voto de confiança para a declaração dos deuses. Nem eles poderiam imaginar que o menino grande abatido em seus domínios seria capaz de pelear por gramados alheios anos depois e se tornar gigante. Os planos previstos era distribuir heróis por outras nações. Mas erraram nas contas e permitiram o nascimento do Arqueado de Pau Grande e o Guerreiro Ébano de Três Corações antes da primeira metade daquele século. E já não puderam evitar na outra banda de centenário o Afinco do Baixinho e a Fome de bola do Dentuço. Os herdeiros da Ilha de Vera Cruz já haviam mudado seu destino.

A Copa já é nossa. Promessa! É nossa porque um raio não infortuna duas vezes o povo e porque o torneio não é opera buffa a se repetir sem criatividade. As contrapartidas já foram dadas. Soberbas fora do campo foram trabalhadas. Vaidades para dentro também foram queimadas. Não que os deuses entortem seus olhos para o luxo e a opulência. Isso é discurso humano para evitar a divisão dos bens. Para eles, a sua prenda foi cobrada. Tomaram-nos o quindim do time. Recolheram o menino Neymar.


Se a Copa já é nossa, não há com o que se preocupar. Tampouco torcer ou rezar em excesso contra um segundo minuto de silêncio infernal no estádio guardado por Jesus Cristo. Sai desta, besta! Os deuses ainda podem atuar em relação ao resultado final. Basta que os estúpidos tentem usar o triunfo ou a ruína como trunfo a sua glória nas urnas. “Política e divindade não se misturam”, avisam. Os milicos fizeram isso. Os comunistas também. Por um instante, o pau de arara não estalou e a vidraça alheia não foi estilhaçada. Por momentos, mesmo controversos, a trégua em nome da santa bola e dos magos de manto amarelo ficou estabelecida. Agora, se isso ocorrer, se o meio de campo embolar, é caixa, é Copa, é taça despedaçada. Do outro lado, o chico Ángel, mesmo a contragosto do Papa, já foi oferendado. Os pratos estão postos, o vinho preparado. Alea iacta est! Dê o que dê, samba ou tango, hay que ter festa no continente.
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Por Manoel Ramires