domingo, 12 de outubro de 2014

Crônica curta: Clube soda

 Os passarinhos já cantam a plenos pulmões. O relógio sequer marca seis da manhã. A gata já ergue suas orelhas e mia. Pede para que a janela seja aberta. Deus deu-lhe impulso. Ainda bem que não concedeu asas. A janela se abre e ela se evade. É a nova temporada que chega. Uma fuga do frio intenso que fez nos últimos meses. Salvação também ao período sombrio pelo qual passa as redes sociais.O Brasil morreu após o carnaval e só ressuscita em novembro. Ou no Natal. A tolerância partiu do teclado. Outrora, o 'face to face' inibia os comportamentos mais exaltados. Já o touch screen, não.  O livro, clama por ser aberto. O parque, se dispõe a ser ocupado. A bola, merece uma dividida. Já a canela quer ser preservada. O calor quer ferver as cabeças, mas não para que se perda o controle. O intuito é refrescar as ideias. Até o café entende o momento. Um pretinho ristretto, por favor. Não neste momento. Só depois do almoço. Agora, os cafés da cidade têm uma nova modinha. É o clube soda! Bebidas geladas sem álcool. Ou com vodka, desde que moderada. Sem discussão. Sem acusações entre cumpas. É a estação dos passarinhos migratórios, da gata esperta na janela. O celular repousa sobre a mesa. Os risos se propagam. O canudo é acionado. Gole na água de valência também pedida. Nervos mais amenos. Brinde. Brindam os amigos opostos enquanto bradam sozinhos os bebedores de ódio. Conta vinda. Conta dividida.

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