sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Crônicas Curitibanas: Estufas públicas


 O assunto predileto do curitibano, qual é? Erra quem acredita nas curtidas e compartilhamentos sobre mensalões e rolezinhos.  Esse são eventos mais próximos a São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Também passa longe quem pensou que os curitibanos têm freqüentado bares para tomar um chope gelado e discutir as eleições equatorianas. Poucos se arriscam a olhar para esse lado do horizonte. Talvez alguém sugira que o tema do momento seja o Festival de Teatro, quando os intelectuais se acotovelam em busca de ingressos e debatem uma nova linguagem teatral baseada no improviso e na interação com o público.  Aposta equivocada, baseada em nosso suposto clima europeu. E antes que alguém fique com a garganta seca, digo que também não é o Atlético na Taça Libertadores ou o seu estádio em adiável construção o assunto que domina as redes sociais, os memes, e as academias. Bola fora.

Minha gente, na verdade, somos provincianos. Curitiba adora assunto ameno, de opinar sobre algo que não a exponha. E nada melhor do que começar uma conversa com um “tá quente, né”. Principalmente porque aqui é 8 ou 80. É frio de congelar osso. Chove em demasia. Venta de derrubar pinheiro. Faz sol de amolecer criança. Não tem meio termo, meio cachorro quente de vina. Ou se é atlético ou coxa (desculpem-me, paranistas). 8 ou 80 graus. Entra ou sai.

Quem conhece bem essa característica intempestiva são os controladores de acesso das estações tubo. No inverno, uma rajada de ar seco e gelado, como em um túnel de vento, penetra o ponto arredondado. E os camaradas ficam se encolhendo por dois meses até os empresários ‘perceberem’ a necessidade de oferecer jaqueta, calça, luvas, gorro, cobertor e leite quente para que o trabalhador não morra de frio. Percepção essa, aliás, que ainda não desembarcou no verão. De câmera frigorífica, aqueles formatos cilíndricos acoplados se transformam em verdadeiras estufas de gente. Todo mundo cozinhando. Já o controlador de acesso, vulgo cobrador, naquela roupa cinza e pesada, sequer pode contar com um ventiladorzinho, um isopor com água gelada, picolé etc. Resta-lhe o improviso, como a cobradora que meteu um chapéu de palha, óculos escuros de camelô, uma bolsa de praia e uma sandália em seu figurino. É o Tubão de Ramos!

Neste ponto, dá pra dizer que a Prefeitura poderia ser mais rápida. Ao lado de oferecer livros nas Tubotecas (outro tema que não pegou), podia estender algumas cangas para a população, distribuir protetores solares, cremes, abanadores. Em estações menores, quem sabe, permitir o biquíni, o guri sem camisa e oferecer esfoliação a base de pinhão. Já em estações maiores como a Carlos Gomes ou Rui Barbosa, onde o clima é de sauna seca, espalhar sais minerais e essências revigorantes. Bota lá um capim limão, jasmim e música zen. Tenho certeza que os curitibanos, nestes dez a quinze minutos em que aguardam o Ligeirão, ficariam muito mais animados para eleger o calor como tema principal da estação.
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E os garis? Dêem-lhes bermudas e regatas.   

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