quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Prontos para a primavera


O sol retornou à Curitiba nesse namoro cheio de idas e raios. Seu calor aquece as pessoas e os prédios como o Palácio Avenida, na Rua XV, onde está instalada uma das mais imponentes agências bancárias da capital. No outro braço de esquina, o Bonde da Leitura da Prefeitura de Curitiba enfim ganha fachada nova através do pano úmido e do detergente. A moça que lá trabalha, registra: “Parece um novo lugar. Podemos ver as pessoas transitando pela rua e também sermos vistos”. Se fosse um imóvel móvel à venda (trata-se de um trem estacionado) nesta loucura do mercado atual, talvez fosse valorizado uns 30%, mesmo tendo suas paredes constituídas de madeiras e seu espaço interno abrigando páginas ao invés de assentos. Interessadas seriam as cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, por causa de suas privatizações ou fraudes, que levaram o povo às ruas nos últimos meses.

Valor de mercado ou não, deve ser por isso que o trólebus está protegido por dois carros bem novos da polícia do Paraná. Acredita-se que um Fluence em um Duster devem ser suficientes para emplacar qualquer perseguição que possa ocorrer no caso de sequestro do bonde e seus preciosos livros ou assalto à agência e suas valiosas notas. Se bem que pelo brilho e lustre dos carros, mais evidentes que o retorno dos raios do sol à Curitiba, pode ser um flagrante de que aquelas viaturas cumpram a missão de também ficarem expostas ao público. Até se pode imaginar quanto trabalho não tem o setor de manutenção da Polícia Militar ou a empresa terceirizada em Car wash para conseguir com que as botas dos soldados e seu fardamento amarronzado possam ficar espelhados tão nitidamente na pintura das portas e do capô. Principalmente porque ambos giroflex rubros escandalosos disputam espaço com a luminosidade do astro rei ao meio dia.

E estes, os militares, por vossa vez, cerca de quatro para cada carro, possuem fardas impecáveis, sem sequer uma goma amassada. Seus assessórios negros como cassetete, porta algemas e revólveres também parecem terem sido lustrados pelos tantos sapateiros que labutam na Boca Maldita. Mas cometem uma gafe imperdoável: não sorriem. A falta de dentes simpáticos não atrai a empatia dos transeuntes. Defendo que moças de calças coladas e decotes poderiam estar no local, já que a ideia parece ser passar uma sensação agradável, digo, de segurança; ou então, que os PM’s modelos ganhem uma gratificação por ficarem expostos como manequins vivos. Principalmente após observar que o ônibus de turismo doble deck passa pelo local com máquinas disparando seus flashes diurnos na direção do Palácio Avenida, do Bonde da Leitura e dos policiais.


Dez minutos depois os veículos saem. Talvez em busca de mais uma praça onde possam estar expostos. O Palácio mantém sua aparência impecável.  E o bonde, sem próxima parada, já necessita de mais detergente na sua última janela.

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