O sol retornou à Curitiba nesse namoro cheio de idas e
raios. Seu calor aquece as pessoas e os prédios como o Palácio Avenida, na Rua
XV, onde está instalada uma das mais imponentes agências bancárias da capital.
No outro braço de esquina, o Bonde da Leitura da Prefeitura de Curitiba enfim
ganha fachada nova através do pano úmido e do detergente. A moça que lá
trabalha, registra: “Parece um novo lugar. Podemos ver as pessoas transitando
pela rua e também sermos vistos”. Se fosse um imóvel móvel à venda (trata-se de
um trem estacionado) nesta loucura do mercado atual, talvez fosse valorizado
uns 30%, mesmo tendo suas paredes constituídas de madeiras e seu espaço interno
abrigando páginas ao invés de assentos. Interessadas seriam as cidades como Rio
de Janeiro e São Paulo, por causa de suas privatizações ou fraudes, que levaram
o povo às ruas nos últimos meses.
Valor de mercado ou não, deve ser por isso que o trólebus está
protegido por dois carros bem novos da polícia do Paraná. Acredita-se que um
Fluence em um Duster devem ser suficientes para emplacar qualquer perseguição
que possa ocorrer no caso de sequestro do bonde e seus preciosos livros ou
assalto à agência e suas valiosas notas. Se bem que pelo brilho e lustre dos
carros, mais evidentes que o retorno dos raios do sol à Curitiba, pode ser um flagrante
de que aquelas viaturas cumpram a missão de também ficarem expostas ao público.
Até se pode imaginar quanto trabalho não tem o setor de manutenção da Polícia
Militar ou a empresa terceirizada em Car wash para conseguir com que as botas
dos soldados e seu fardamento amarronzado possam ficar espelhados tão
nitidamente na pintura das portas e do capô. Principalmente porque ambos giroflex rubros escandalosos disputam
espaço com a luminosidade do astro rei ao meio dia.
E estes, os militares, por vossa vez, cerca de quatro para
cada carro, possuem fardas impecáveis, sem sequer uma goma amassada. Seus
assessórios negros como cassetete, porta algemas e revólveres também parecem
terem sido lustrados pelos tantos sapateiros que labutam na Boca Maldita. Mas
cometem uma gafe imperdoável: não sorriem. A falta de dentes simpáticos não
atrai a empatia dos transeuntes. Defendo que moças de calças coladas e decotes
poderiam estar no local, já que a ideia parece ser passar uma sensação agradável,
digo, de segurança; ou então, que os PM’s modelos ganhem uma gratificação por
ficarem expostos como manequins vivos. Principalmente após observar que o
ônibus de turismo doble deck passa pelo local com máquinas disparando seus
flashes diurnos na direção do Palácio Avenida, do Bonde da Leitura e dos
policiais.
Dez minutos depois os veículos saem. Talvez em busca de mais
uma praça onde possam estar expostos. O Palácio mantém sua aparência
impecável. E o bonde, sem próxima
parada, já necessita de mais detergente na sua última janela.
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