segunda-feira, 22 de julho de 2013

Crônica: Miau por nós


Ela mia em desalento. A janela é aberta. O vidro já não é mais obstáculo. Sobe no parapeito e para. Vira-se para trás. O miado é repetido. Lamento acrescido do pedido de providências. Mas o pouco que podia ser feito era abrir as ventanas e mostrar que o tempo se vestia de pranto e tom gris. Ela tem necessidades. Xixi. Fezes. Arranhar. Sua caixa de areia está colocada num canto da casa. Ela deseja a grama do quintal do vizinho. Eu a afago como se falasse que não dá pra sair de casa. Recordo do cachorro da minha irmã. Ontem passeávamos acompanhados de garoa fina. Logo após deixarmos a ansiedade que o desesperava em casa. Agonia que, assim como o clima, se deslocou 400 quilômetros e se instalou nos telhados de Curitiba. Angustio-me. Penso em quantos bichos de estimação estão enclausurados. Cheirando pela fresta da porta. Olhando pela janela. Enfurnados em suas casinhas ou paninhos. E tem a roupa que não seca. Já cheira a suja. Já precisa de outra máquina. No chão umedecido. Na chance de um escorregão. Na ponta dos pés gelados. Nas meias sujas. Nas pessoas embaixo das marquises. No vento ameaçando-as. No lamento da gata por todos nós. Nesse desalento com o frio. Só por este momento.

Um comentário: