segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Crônicas: Na parada nenhum emprego para


 O que me impressiona no capitalismo é a sua capacidade de se inventar empregos. Nunca se viu ou verá entre outras sistemas econômicos tanta oferta de trabalho formal e, principalmente, informal. Essa é a grande proeza do capitalismo: incentivar a criatividade para sobreviver. Duvido que o socialismo seja capaz de ofertar tantas alternativas. No creo! No meu imaginário, os socialistas só são capazes de produzir funcionários para estatais, proletários, camponeses e frustrados. Já no capitalismo qualquer merd. é adubo para dinheiro, gerando outro emprego dependente e até carteira assinada. Claro que essa argumentação arrepia os sociólogos. É senso comum. Mas o povão, grande artista da fome, não enche a barriga com teorias.


Para minha alegria, presenciei a invenção de mais uma forma de sobrevivência e a sua complexa estrutura de funcionamento. Estava na BR-277 com vistas a me dirigir ao centro de Curitiba quando um indivíduo se aproximou e se ofereceu para acenar ao ônibus em meu lugar. Não entendi a sugestão. Chamar o ônibus para mim? Eu conhecia a modalidade de emprestar a unidade do cartão transporte por um preço mais acessível, reforçando uma fraude comum, como ocorre muito no Terminal Guadalupe. Mas apenas tomar meu lugar pra chamar o ônibus? Logo naquela parada que leva a todos em direção ao centro da cidade?

Contudo, a sua resposta trouxe um viés interessante: “É pra diminuir o istréis, chefia. As pessoas andam tão cansadas que não prestam atenção no busão ou reclamam de ter que levantar a mão pra sinalizar”. Não é mentira. Se estivesse no Rio ou em São Paulo, o mesmo ponto de ônibus poderia levar a bairros e ruas distantes umas das outras, obrigando os passageiros a terem uma lista com o número do ônibus e os locais que eles percorrem. Só que em Curitiba, na BR-277, próximo ao Mercadorama, todos vão para o Guadalupe, Carlos Gomes ou Rui Barbosa. Talvez, a preguiça que ele sugira tem a ver com as estações tubos, onde não é necessário acenar ou ficar muito atento ao nome do ônibus.

Mesmo assim, o ‘acenador’ seguiu vendendo o seu serviço, uma vez que percebeu uma fatia de mercado. Até elaborou uma tabela de preços para o serviço atrelado, obviamente, ao preço dos ônibus. O vermelho metropolitano é mais barato, o amarelo municipal está no meio e pelo intermunicipal branco se cobra mais caro. Ele ainda oferece dois tipos de serviço: econômico e luxo. No primeiro, ele apenas solicita a parada do ônibus após solicitação do passageiro. No serviço luxo, ele fica atento à aproximação da linha desejada e assinala ao transporte.

Mas não pensem que para por aí. A linha de trabalho informal é mais ampla. Após os passageiros partirem, o empreendedor daquele ponto confessa que é apenas mais um empregado. Além dele, existem outras pessoas desempenhando outras funções. Uma delas é o cargo de guardador de fila, desenvolvido em terminais de ônibus e na Praça Rui Barbosa. Cobram-se dez centavos a cada cinco minutos para ficar na fila. A rotina dura doze horas, mas é lucrativa, pois os coletivos nunca chegam no horário. Também é na Praça Rui Barbosa que fica o idealizador desta atividade: Zé Bueiro. É justamente com ele que vou me encontrar. Aliás, vi-me obrigado a conhecê-lo. Quem sabe Zé Bueiro não planeja uma nova atividade, confirmando o marginal esplendor do capitalismo. Revelações para as próximas crônicas.
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Manolo Ramires

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