Atualmente o Paraná Clube é considerado o primo pobre dos
clubes da capital paranaense, atrás de Atlético Paranaense e Coritiba. Mas nem
sempre foi assim. Sendo resultado da fusão do Pinheiros e Colorado, que também
vieram de outra fusões, o time foi seis vezes campeão estadual em dez
anos. Possuía a maior sede social e seus
frequentadores pertenciam à elite curitibana. No entanto, essa história foi se
diluindo e o time de futebol atravessando más fases, estando há sete anos na
Série B do futebol nacional e correndo o risco de fechar no fim do ano, segundo
um diretor.
Seria um final trágico para o tricolor da Vila Capanema,
cujo estádio, Durival Britto e Silva, que era superintendente da Rede de Viação
Paraná-Santa Catarina, foi uma doação para o time de futebol formado por seus
funcionários, em 1947. Contudo, uma nova áurea pode ter atingido o estádio
nesta data: 4 de março de 2015. Neste dia, cerca de 20 mil professores rejeitaram
a proposta governamental e decidiram continuar greve contra atrasos salariais e
a tentativa do governador Carlos Alberto Richa de se apropriar da Previdência
dos trabalhadores.
Agora, a Vila Capanema se une a seleta história de estádios
de futebol que foram utilizados a favor da luta dos trabalhadores, na luta de
classes. Um deles foi São Januário, do
Vasco da Gama, na década de 1940. O Gigante da Colina abrigou as festividades
do 1º de Maio em 1941, 42, 43, 45 e 51, promovidas por Getúlio Vargas. Foi
neste estádio, por exemplo, que foram anunciadas a criação do salário mínimo e
da Justiça do Trabalho. Com média de público de 40 mil pessoas, ocorriam
discursos e partidas de futebol, inclusive de times sindicais, como em 1945.
Cabe destacar que o Vasco da Gama foi o primeiro clube a permitir negros no
campo futebol (honra disputada com Bangu e Ponte Preta na década de 1920).
Se o uso político de estádios de futebol por Getúlio Vargas
era considerado positivo para sua imagem na capital da República, Rio de
Janeiro, o mesmo não ocorria em São Paulo. O estádio Paulo Machado de Carvalho
foi inaugurado em 27 de abril de 1940 e Vargas recebido por enorme vaia dos
paulistas. Eles estavam insatisfeitos com o fracasso do golpe dado na chamada Revolução
Constitucionalista de 1932. Por outro lado, esse mesmo Pacaembu abrigou evento
das centrais sindicais em 2011 e em defesa da pauta dos trabalhadores.
Outro estádio emblemático da classe trabalhadora é o 1º de
Maio, em São Bernardo do Campo. Era
período da Ditadura Militar e os metalúrgicos já haviam realizados greves em
1978 e 1979. Nessa época, como registra o site ABC de Luta, as greves e as
manifestações públicas contra a alta dos preços cresciam cada vez mais. Nesse
contexto, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em
greve desde o dia 1º de abril (90% da categoria paralisada), com a diretoria
cassada e sob a proteção da Igreja, convoca o 1º de Maio para o Estádio da Vila
Euclides, sob as bandeiras da “liberdade e autonomia sindical, direito de
greve, garantia de emprego, salário mínimo nacional real e unificado, contra a
carestia”. Foi esse movimento, inclusive que fundou o Partido dos Trabalhadores
e promoveu o sindicalista Luís Inácio Lula da Silva, mais tarde se tornando presidente
da República, em 2002.
|Perversidade
Os estádios de futebol também foram utilizados contra a luta
dos trabalhadores e dos defensores da democracia. Um desses casos ocorreu na
Ditadura Militar chilena de Augusto Pinochet (1973). O Estádio Nacional Julio
Martínez Prádanos, mais conhecido como Estádio Nacional, serviu de cadeia para
cerca de 40 mil presos políticos. No local, os oposicionistas eram torturados e
mortos, como o jornalista norte americano Charles Horman (ver filme Missing, de
Costa-Gavras) e o artista e músico Víctor Lidio Jara Martínez, que foi
assassinado no Estádio do Chile e seu corpo jogado em um matagal, conforme
revela a Comissão da Verdade e Reconciliação do Chile, em 1990.
|Recomeço
Embora a função social dos estádios não seja abrigar
assembleias sindicais, o seu clima se confunde muito com a luta dos
trabalhadores. Pois há disputa por uma pauta, por um gol, por uma agenda, por
uma vitória. Alegrias e emoções, decepções e agonias se misturam. Há também uma
grande diferença e uma grande consciência. O antagonismo é de que o jogo é
jogado nas arquibancadas e não no gramado e a semelhança é sobre a imprevisibilidade
do resultado. É isso que apaixona no futebol e na greve.
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