terça-feira, 27 de maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Álbum de figurinhas da Humanidade

Tá todo mundo colecionando seu álbum de figurinhas da Copa no Brasil. Desde a piazada até os marmanjos, passando pelo incremento da mulherada. A galera vai se divertindo ao completar sua seleção, ao questionar um atleta escalado pela editora, como no caso do Robinho na Seleção Canarinho e, é claro, ao se encontrar para uma partida de bafo ou simplesmente para trocar figurinhas repetidas.
Dia desses, um malandro tinha completado quase toda a página da atual equipe campeã, a Fúria.  Faltava-lhe apenas o marido da cantora Shakira. Não teve dúvida. Pegou uma revista antiga de
automobilismo e recortou o busto do piloto Piquet. Na legenda da foto, apenas substituiu o Nelson por Gerard. Sem vergonha, ainda anunciou nas redes sociais a proeza de completar antes do que todo mundo aquela seleção.

 A brincadeira despertou minha imaginação. Também decidi montar meu próprio álbum de figurinhas. No entanto, ao invés de seguir o padrão de peladas de fim de ano, quando Neymar divide a bola com atores, jornalistas e personalidades, optei por montar seleções de não boleiros e distantes de nossa época. A dúvida que me marcava era se eu escalava os times por país, como ocorre na Copa do Mundo, ou por ramo de arte. Poderia montar, por exemplo, uma seleção de escritores brasileiros com Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, José de Alencar, Luís Fernando Veríssimo, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Ariano Suassuna e Cecília Meirelles, cujo técnico seja Buarque de Holanda. Já imaginou um confronto com Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e seus heterônimos, Camões, José Saramago, Pero Vaz de Caminha? Ia ter vários gols de letra e palavras divididas. Contudo, ainda acho que seria interessante escalar uma fortíssima equipe sul-americana com Borges, Cortázar, Vargas Llosa, Garcia Marquez etc.

Este time da literatura teria concorrente de peso na música. Os caras iam se entender apenas com a batuta. Evidente que a base da seleção seria composta por jogadores da Rússia e Alemanha. Elenco com Tchaikovsky, Korsakov, Stravinsky e Rachmaninoff, Bach, Beethoven, Schumann e Wagner, e ainda com Chopin, Mozart e Dvorák.

Outro time do meu álbum que daria trabalho seria o da filosofia. Se é que eles passariam da primeira fase. Ninguém ia se entender. Mesmo assim, convocaria para as laterais Rousseau e Montesquieu, como zagueiros Sócrates, Platão e Aristóteles, como volantes Kant e Marx, armando Schopenhauer, no gol Spinoza e no ataque, surpreendendo a todos, Jesus e Buda.

Muito curioso seria definir o time da política. Sugiro dois, assim como a Alemanha dividida em 1974. Dessa maneira, haveria um time que todos poderiam torcer e outro que ninguém choraria se perdesse. No primeiro, estaria Martim Luther King, Mandela, Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, Lula, Napoleão, Bolivar, Zumbi, Dalai Lama, Aung San Suukyi e Lincoln. Já no segundo (infelizmente é mais fácil de escalar) vestem a camisa de sangue Hitler e Mussolini, Saddam Hussein, Stalin, Cesar, Francisco Franco, Truman, Pinochet, Médici, Inocêncio IV e Bonaparte.

A lista de seleções é extensa.  Dá pra fazer na pintura, na ciência, na arquitetura, na escultura, no teatro etc. Por outro lado, o que eu mais gosto deste álbum é que os atletas não precisam guardar posição no campo. Todos atacam e defendem-se com maestria. Outra coisa interessante é que nenhum deles requer ser campeão ao final do torneio. Vence sim o torcedor que em sua vida aprofundar os conhecimentos de pelo menos um craque. Ou melhor. Quem sabe, no futuro, erguer a plaquinha para entrar no lugar de alguém e ter sua foto colada em um canto de página.
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Manolo Ramires

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Rapsódia do amor





Ah, o amor!
o amor corre pelas veias
aquecendo a pele e arrepiando o pelo dos amantes
É um uivo que dispara os corações e deixa os olhos
vidrados em busca do seu bem querer
É um sussurro no íntimo da razão que a intima
a se despir aos fluídos de uma doce paixão

Ah, o amor!
o amor escorrega por entre os dedos
no anseio desesperado de ser agarrado
É concerto, é pizzicato beliscando os sentidos
e fazendo-nos cócegas nos lábios até roubar o sorriso
É tango, juntinho, instintivo, vidente, num emaranhado
que dengosamente desiste de se soltar

Ah, o amor!
O amor é verso sem fim
que se declama com um beijo
É prosa tortuosa fluindo pelas declarações
e compreendida por ambos mesmo sem que haja nexo
É dizer sem escólio, impreciso, é código indecifrável


numa obra introduzida em nossas vidas por marcantes reticências...

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Manolo Ramires - 08 maio