sexta-feira, 29 de maio de 2015

Crônica TT: Acordo

Ao ser encurralado, o ladrão entregou o carro roubado e disse: 
- Delação premiada!
Teve que ser solto.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Artigo: À espera de um milagre

Não são apenas as fileiras coxinhas que sobrevivem de indignação seletiva. Muitas vestes petistas podem ter sido picadas por essa doença que lhes deixa febris a razão. Nem trato aqui de tapar o sol com a peneira na questão da corrupção. O olhar agora se mira sobre a forma política e econômica que o governo Dilma tem tratado os trabalhadores. Neste ponto tem faltado punho e voz a muitos membros da esquerda para protestar. Parecem apenas olhar descrentes a cada vez que o povo é traído. Parecem esperar por um milagre.

A apatia na defesa da luta dos trabalhadores teve mais uma demonstração na semana passada. A nova penitência imposta aos brasileiros foi os cortes promovidos na saúde e educação. 21 bilhões que simplesmente não vão para as escolas, Cmeis, UBS e UPAs, que não vão virar livros e lápis, nem remédio, ambulância e reforço no SUS. Dinheiro (a falta dele) que enxugará programas federais nos estados e municípios. Contudo, o governo Dilma tem feito a lição de casa. Só que à direita. Por isso, nos próximos dias, deve ser reprovado pelos professores federais que entram em greve.

Mesmo assim, o delírio segue mantido. Fosse um governo liberal, de bico grande, e o efeito colateral das medidas impopulares seria sentido nas ruas e redes sociais. Um exemplo ocorre contra os governos Beto Richa e Geraldo Alckmin. Contra eles, as medidas impopulares são denunciadas. Contudo, para Dilma, a militância só toma ciência das políticas através dos jornais. Nunca é convidada a opinar; apenas a sustentar. Como pediu Marco Aurélio Garcia em encontro do partido no sábado, 23, em São Paulo: “Temos que propor, no imediato, que essas correções que estão sendo feitas do ponto de vista fiscal possam efetivamente permitir que daqui uns poucos meses nós estejamos com este problema resolvido”. Por outro lado, essa postura amplia a surdez da direção em relação à base. Cada vez mais pouco se queixam das decisões. Raros criticam, por exemplo, que o imposto sobre o lucro dos bancos é "antiácido" que resultará em apenas quatro bilhões a mais aos cofres públicos (contra os 70 bilhões do corte). Para piorar a posologia, aqueles que divergem dessa dieta impopular ainda são constrangidos com a afirmação de que "fazem o jogo da direita". Ao que rebate, por exemplo, Ricardo Kotscho: “Nunca vi uma reunião do PT tão vazia como essa, quando no passado se disputava um crachá. Isso é um sintoma grave de uma crise que nos". Nisso, se conclui que a militância padece de inanição.


Só um milagre salva. E um milagre, em sua essência, é atribuir a terceiros, a alguém iluminado, a solução de seus problemas. É ser passivo diante da onda que engole suas bandeiras históricas. Contudo, enquanto a cura dos enfermos não atinge os corações vermelhos, ajustes fiscais são impostos, Selic sobe mais do que pressão, bisturis são lançados no lombo dos desempregados, bancos públicos elevam suas taxas, movimentos sociais são deixados em quarentena e o capital segue recebendo sua hóstia consagrada.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sinopse: Ao som do tambor

Não é só no nordeste, na Bahia, em que as religiões afrodescendentes são cultuadas. No sul também se mantém vivo o elo com a África e suas tradições. É o que mostra o etnodocumentário “O Batuque gaúcho”. Ele traz uma parte pouco conhecida da cultura do Rio Grande do Sul que foi construída pelos africanos em torno da religiosidade dos orixás. Conhecido como batuque ou nação, a religião africana moldou a identidade gaúcha que carrega várias referências africanas, desde as palavras, comidas, danças, música e espiritualidade. Esse filme expõe a ancestralidade africana contemporânea que molda o modo de vida e as relações sociais dos que são filhos de santo e dos que não são.

O documentário é narrado com depoimentos, dança e celebração. Ao longo da narração, além de explicar as características dos orixás, é diferenciando a diferença do Batuque para outras religiões: “A diferença entro o batuque e outras religiões afrodescendentes é puramente litúrgica. Ideológica e filosoficamente são a mesma coisa. O orixá cultuado pelos gaúchos é o mesmo cultado pelo Candomblé da Bahia, ou no Xangó, no Recife, ou no Vodum, no Tambor de Mina do Maranhão”, explica Bàbá Hendrix de Òrúnmìlá, historiador e teólogo.



Ficha Técnica
Produzido pelo Iphan
26 minutos

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Danem-se os professores

 Danem-se os professores e sua pauta. Estou nem aí para o reajuste salarial dos servidores estaduais abaixo da inflação. Eu quero é saber do meu. Não tenho filho em escola pública. Não utilizo hospital público. No meu bairro não tem bandido e eu ainda pago segurança privada. Danem-se os professores e se levaram bombas, se os estudantes levaram tiros de borracha, gás de pimenta, se legalizaram o assalto à Previdência. Nada disso me diz respeito. Por isso, eles não têm meu apoio. Nem meu repúdio. O que importa é o meu.

E no meu também tá foda. Não está fácil ser “cidadão de bem” em nosso estado. Não bater umas panelas, sair de peito aberto e levar umas borrachadas. Tu nem pegas o carro e já é lembrado que subiu o preço da gasolina, que 32% desse valor é de ICMS. E antes mesmo de girar a chave, pisca no seu painel que o IPVA subiu 40% para cobrir os rombos feitos pelo governo do estado. Nem saiu de casa e já desiste de ir ao supermercado, pois lá também houve reajuste de impostos estaduais no feijão e arroz. É por isso que tô nem aí para os professores. E se no meu está complicado, imagine para quem vive de turismo no Paraná, quando vê a Secretária do Turismo sendo fechada para cortar despesas, quando percebe a diminuição do fluxo de turistas por causa do pedágio mais caro do país. Esses comerciantes, microempresários, devem dar saltinhos emputecidos.

Mas danem-se os comerciantes do litoral ou de qualquer canto. Eu quero saber do meu. E no meu ainda tá ruim. Porque subiram as taxas no Detran, mas o trânsito não diminuiu. Subiu a conta de luz em 36%, mesmo eu economizando. Subiu a conta de água em quase 13%, mas o meu consumo, não. E também subiu o salário do governador para R$ 33 mil, dos comissionados, de seus secretários, o lucro dos acionistas, a inflação, mas o meu poder de compra, não. Danem-se as contas.

Danem-se o povo, pois eu quero saber do meu. E no meu ainda não entrou nenhum esqueminha. Só meu ordenado. Enquanto isso, os engravatados do TJ, TCE, do MP recebem quatro paus de auxílio moradia e eu não tenho dinheiro nem pra pagar a prestação do Minha Casa, Minha Vida. Os ex-governadores e muitas senhoras ganham uma cacetada de dinheiro sem representar ninguém. E o Justus, que tinha uma porrada de funcionários fantasmas, segue sendo deputado. E na Receita Estadual descobrem pagamento de propina. Puto vida, como isso indigna. Eu ali, pagando imposto direitinho, retido na fonte, e os camaradas sonegando, subornando, desviando, pagando campanha política, só vivendo na boquinha.

Danem-se os servidores e suas reivindicações. Danem-se se não tem política cultural, se a TV Pública é sucateada, se jornalista é ameaçado, se empregos não são gerados, se as viaturas não têm gasolina, se os credores estão sendo pagos com o dinheiro dos servidores, se mais uma porrada de coisa.


Danem-se vocês, pois eu também estou ferrado.
___________
Manolo Ramires

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Poema: San Lazaro

Por que o povo recorre a Deus?
Porque lhe faltam os seus
Se ele se embriaga de fé
é sinal que não crê mais no mé
E peregrina de ladainha em ladainha,
preso à religião,
onde busca sua salvação

TAQUES, Leandro. Festa de San Lázaro
Orai, senhores,
Contra as dores
Em busca dos amores
Orai, senhoras
Pelas horas
Pelos hijos que se vão embora
Orai com calma
Pois a oração é a luta da alma
E a procissão, o sindicato que lhe salva

Cada um com seus martírios
Com seus sacrifícios
Uns atiram pedras
Outros amarram às pernas
Rastejam em clemência
- Ora, é demência?
- Não vês, que decência!

E segue a festa dos santos
Por Cuba, pelos cantos,
Entoando seus cânticos,
Deixando-nos extáticos,
Na festa de San Lázaro
__________
Curitiba – 15052015
Manolo Ramires

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Artigo: Cenário nebuloso

O brasileiro não tem culpa. Seja ele dono de um título de eleitor ou não. Cada dia que passa se torna mais difícil até para os “entendidos” saber ou prever como vão agir os partidos e as massas em diversos níveis. Se for governo, aperta; se for oposição, se taca pedra. Minimiza seus erros achando culpado alheio e se vangloria de .... é, não há do que se enaltecer no momento.

A postura dos partidos e dos políticos é um samba em descompasso. É o caso do PT, que condena Beto Richa pela violência, mas que freou na força a greve dos caminhoneiros. Partido contra a terceirização, mas que não puniu o PMDB quando votou a favor. Sigla que apoio o ajuste fiscal e olhou feio para o PDT, que nesta pauta, foi contra.

E o PSDB não vai longe. No Congresso, como oposição diz que defende o trabalhador. Mas nos estados, como São Paulo e Paraná, aumenta impostos e taxas e senta a borracha em professor. E flerta com a extrema direita, mesmo querendo pousar de social democracia. E se envergonha de aplaudir o governo Dilma por medidas que ele mesmo tomaria.

Mas a confusão, ao eleitor, não se restringe aos dois partidos. Ela se espalha pelo Brasil. Como não elogiar o prefeito Gustavo Fruet quando abriu as portas da Prefeitura para abrigar os feridos da Batalha do Centro Cívico? Mas essas mesmas palmas seriam mantidas se soubessem que o prefeito não valoriza o salário base dos servidores municipais, promove calote na saúde e educação, não tem coragem de romper com grupos políticos que sugam a cidade como no transporte? Menino bom ou menino levado?

Neste descompasso da política também entra a sociedade. Povo que vaia a Dilma num dia e no outro se solidariza com o professor. Povo que protesta por educação, mas não critica governador violento. Na mesma esteira entram os sindicatos e movimentos sociais. Apoiar o governo contra o perigo do retrocesso ou Romper com um governo que utiliza os movimentos sem contrapartida para se segurar em Brasília? Eis a questão.

De um lado, o cenário é nebuloso. Mas de outro, há algum tempo a política não estava tão intensa na boca do povo.
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#alfinetadodia E a taxação das grandes fortunas, saiu da pauta do governo federal?
#Bolsadeapostas Os deputados vão protocolar o impedimento de Beto Richa: ( ) Sim ( ) Não ( ) Já que a vaca tossiu, é mais fácil chover canivete.

#pingafogo no zap zap. Alguém sabe por que os vereadores de Curitiba precisam de carros novos?

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Artigo: Cai um covarde

Sei que não se deve bater em quem está caído, como fez o Choque no dia 29 com os manifestantes. Contudo, não há como deixar de se observar que Fernando Franceschini é um político covarde. Covarde na prática, não na valentia. Não a toa cabe-lhe o apelido “Valentão do PIG” e “Batman das Araucárias”. Pois sua carreira se sustenta em um imenso gogó e em pouca ação política construtiva. Cinco episódios recentes confirmam a característica de covarde.

O primeiro deles foi realizar uma campanha política ausente de propostas e centrada no ódio e no preconceito. Não se via em sua plataforma qualquer discurso ou iniciativa relacionada à redução da violência, uma vez que é policial federal. A escolha de Franceschini, pelo contrário, foi no sentido de marginalização dos movimentos sociais, no discurso fácil da redução da maioridade penal e, principalmente, no ataque a um partido político sem oferecer qualquer alternativa de desenvolvimento como reforma política e partidária. Com o bordão “Fora Dillma e leve o PT junto”, ele se elegeu com votos reacionários e conservadores.

O segundo episódio de covardia ocorreu quando ele, já secretário de segurança pública, aparece em programa policial com uma pistola na cintura. Imagem digna de pistoleiro, de faroeste. Na conversa, o conteúdo era o que menos importava. A escolha foi pelo convencimento através da intimidação. Muita gente aplaudiu a atitude, afinal, bandido bom é bandido morto e a lei se fazia presente. Contudo, o revólver pendurado na cintura impede que quem está do outro lado possa fazer um confronto de ideias sem temer o saque da arma
.
 Por outro lado, é justamente o terceiro momento em que a aparente valentia se transforma em covardia. Isso ocorre quando a ‘autoridade’, durante a primeira greve dos professores, é impedida por um professor de permitir a entrada dos “Deputados do Camburão” para votar o saque na previdência. A imagem de Franceschini, se escondendo atrás da tropa, dá a dimensão de uma sociedade que grita muito, bate panela, mas no mano a mano, se esconde até do debate.

Fuga que se repetiu ao tentar se eximir do massacre nos servidores públicos culpando a mesma tropa. Ora, até as capivaras de Curitiba sabiam que havia sede de vingança, que o forte aparato policial e às duas horas de bombas visavam também restabelecer a imagem da autoridade pública. Contudo, o que a covardia bombada não previa era a musculatura da opinião pública. Do pior jeito, Franceschini aprendeu que não basta se segurar em uma campanha anti-partidária para ter apoio da sociedade. Ao perceber isso, pois a culpa na PM, que se rebelou.

O último ato de covardia se desenhou ao tentar ficar no cargo. Ao implorar, segundo fontes oficiais, ao governador para ser mantido. Afinal, o Batman não podia ser derrotado e Curitiba City não podia ficar a mercê dos malvados Black blocs – mais este clichê sustentando por Franceschini. Tivesse saído, feito elogio a tropa e admitido alguns excessos, poderia manter em estima para muitos a sua imagem. Sairia injustiçado. Mas preferiu rastejar e acusar as forças policiais. Como servidor público, ele deveria conhecer a máxima: “governantes passam, a instituição fica”.


Agora, enfim Franceschini cai como covarde. Ou é empurrado por outro covarde um pouco mais forte que anda balançando.