A Alemanha que me perdoe, mas esse
jogo está no papo. O Esquadrão Dourado vence a República de Rienzi e ainda
supera seu próximo adversário. Como sei disso? Bati os tambores, ajudado pelos
orixás, para os deuses do futebol. Eles declararam estar envergonhados. Disseram
que em 1950 não foi tragédia que se chocou no Maracanã, mas maldade. Não tinham
nada contra o povo das matas e encantos mil, de gente alegre e trabalhadora. Só
uma ponta de inveja com o crescimento que estava no porvir. Por isso, para o
país que traz a constelação e suas riquezas no pendão, deram o castigo como
contrapartida ao bom agouro.
Há que se ter voto de confiança
para a declaração dos deuses. Nem eles poderiam imaginar que o menino grande
abatido em seus domínios seria capaz de pelear por gramados alheios anos depois
e se tornar gigante. Os planos previstos era distribuir heróis por outras
nações. Mas erraram nas contas e permitiram o nascimento do Arqueado de Pau
Grande e o Guerreiro Ébano de Três Corações antes da primeira metade daquele século.
E já não puderam evitar na outra banda de centenário o Afinco do Baixinho e a
Fome de bola do Dentuço. Os herdeiros da Ilha de Vera Cruz já haviam mudado seu
destino.
A Copa já é nossa. Promessa! É nossa
porque um raio não infortuna duas vezes o povo e porque o torneio não é opera
buffa a se repetir sem criatividade. As contrapartidas já foram dadas. Soberbas
fora do campo foram trabalhadas. Vaidades para dentro também foram queimadas.
Não que os deuses entortem seus olhos para o luxo e a opulência. Isso é discurso humano
para evitar a divisão dos bens. Para eles, a sua prenda foi cobrada.
Tomaram-nos o quindim do time. Recolheram o menino Neymar.
Se a Copa já é nossa, não há com o que se preocupar. Tampouco
torcer ou rezar em excesso contra um segundo minuto de silêncio infernal no
estádio guardado por Jesus Cristo. Sai desta, besta! Os deuses ainda podem
atuar em relação ao resultado final. Basta que os estúpidos tentem usar o
triunfo ou a ruína como trunfo a sua glória nas urnas. “Política e divindade
não se misturam”, avisam. Os milicos fizeram isso. Os comunistas também. Por um
instante, o pau de arara não estalou e a vidraça alheia não foi estilhaçada.
Por momentos, mesmo controversos, a trégua em nome da santa bola e dos magos de
manto amarelo ficou estabelecida. Agora, se isso ocorrer, se o meio de campo
embolar, é caixa, é Copa, é taça despedaçada. Do outro lado, o chico Ángel,
mesmo a contragosto do Papa, já foi oferendado. Os pratos estão postos, o vinho
preparado. Alea iacta est! Dê o que
dê, samba ou tango, hay que ter festa no continente.
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Por Manoel Ramires
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