sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Sem benção para a reeleição

1 - A vida dos políticos não está fácil. Eles fazem das suas e o povo, ao seu tempo, devolve à altura. E nem adianta mais ser religioso, gente de bem, se a sua ladainha não se reverter em ação concreta. E como de boas intenções o inferno tá cheio, a massa quer milagre real.

2 - O prefeito Gustavo Fruet e o secretário Flávio Arns tiveram exemplo deste martírio no último dia 10, na Paróquia São Carlos Borromeu, no Jardim das Américas. Convidados de honra para posse do novo padre Ângelo foram recebidos com “luto” pelos fiéis.

3- A descrença ocorreu no momento da salva de palmas de uma comunidade para a outra. A comunidade do Rocio, no Rebouças, aplaudiu a do Borromeu, que recebia o padre. Os fiéis do Jardim das Américas também agradeceram o padre cedido. Contudo, após o anúncio dos políticos, os católicos preferiram comungar em silêncio.

4 - É aquela coisa: o povo dá o dízimo à igreja, mas não gosta de dar terço de seus salários a impostos, taxas, indústria da multa ou integrantes de governo que gostam de bater em professor. Neste caso, quem corre o maior risco é Fruet, que pode ter como penitência não comandar a cidade pelos próximos quatro anos.


5 - Em tempo: um passarinho me contou e não é pecado comentar que esse matrimônio entre Fruet e Arns pode se manter para eleição, uma vez que Gustavo se divorciou do PT. Resta saber como os católicos aceitaram mais essa pulada de cerca de Flávio, que pode ir para o partido de Ratinho.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O Carnaval venceu


1 - Tem ficado comum neste país o povo negar a cultura como se isso fosse demonstração de "elevação intelectual". O futebol já sofre desse mal quando tentam por na conta de sua expressão a culpa pela incompetência e corrupção de cartolas. O povo só pensa em futebol! Yes, da Alemanha à Inglaterra, passando por Espanha e Itália, The people like football.

2 – Agora chegou a vez do Carnaval. Contra ele, pedras e impropérios foram atirados de todos os lados. Mas o Carnaval devolveu tudo em confete e serpentina.  Tem zika, é culpa da folia. Tem crise, é responsabilidade do folião. Tem juros e corrupção, põe na conta do bloquinho. E o Carnaval passou porque é passarinho.

3 – Passou bem por Curitiba, vejam só vocês. Seja no pré-carnaval de Garibaldis e Sacis, seja no eletrônico, seja nos desfiles das escolas de samba ou no Zumbie Walk. Curitibanos, aos poucos, vão colocando o samba no pé e a fantasia na cara carrancuda. O Carnaval também passou feliz e malandro por São Paulo. Na terra da garoa, abadas e cordas foram proibidas por Haddad. O resultado é mais de 350 blocos espalhados pela cidade e R$ 400 milhões em retorno financeiro, provando que a festa pode trazer dinheiro, além de sorriso e azaração.

4 – Azar tiveram – ainda bem – os machinhos. Isso porque não foi o “Japonês da Federal”, Cunha, Lula ou Dilma as maiores críticas do carnaval. O povo vestiu a camiseta contra qualquer abuso. Os caras tiveram que respeitar as minas, pois “se a abordagem for agressiva, meu número é 180”.

5 – O Carnaval venceu, junto com a Estação Primeira de Mangueira. Venceu a tradição, o respeito, a raiz. Venceu a escola que exalta a comunidade, o povo, e a cultura nacional. No carnaval da metralhadora, “canção” que normaliza a violência, o que ficou no fim é a mensagem contra a intolerância religiosa, a exaltação do afro, de Bethânia. Ficou a mensagem do Carnaval: Não mexe comigo, eu sou a menina de Oyá.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

PINGA-FOGO Dilma não merece o apoio que tem.

 1 - Se tem alguém que abusa da sorte, essa pessoa é a presidenta Dilma Rousseff. Empareda pelo Congresso conservador, pela mídia, pelos golpistas e pela crise econômica, ela geralmente espirra o taco para o lado daqueles que a apoiam. Na frieza da letra, já se tornou comum ver que suas decisões dessagrando muito mais a esquerda do que a direita. Não à toa o bordão: “Dilma fica, mas melhora mulher”.

2 - Só que não tem melhorado. A resposta que dá às manifestações, seja de que lado for, invariavelmente prejudicam os trabalhadores. Ocorreu assim quando escolheu subir os impostos, diminuindo o poder de compra dos brasileiros e endividando-os. Os banqueiros, Itaú e Bradesco, agradecem, pois Dilma não taxa adequadamente o lucro ou as grandes fortunas.

3 - Dilma e seu governo são incoerentes. Quando o calo aperta, clama união da esquerda e de seu partido. Foi assim na eleição, foi assim nas primeiras manifestações, foi assim no começo de 2016. Mas depois que o sapato afrouxou, disse que o Governo não era o PT, que ninguém pediu a ela uma guinada à esquerda, entre outros. "Dilma fica. Pra quê?"

4 - Fica para permitir a auditoria da dívida pública, por exemplo. Mas ela vetou. Rendeu-se ao interesse do mercado. Por outro lado, contra o interesse dos trabalhadores e sindicatos, sinaliza que vai mexer na previdência de novo. Pelo menos foi o que disse na reabertura do Congresso Nacional, bem pertinho de Eduardo Cunha. A Força Sindical, dividida sobre o impeachment, e a CUT, 100% contra golpe, protestaram. Para a Força, “com a ideia da implantação da idade mínima de 65 anos para homens e mulheres atingirem a merecida aposentadoria depois de contribuir a vida toda, o governo inicia uma nova etapa para desmanchar, gradativamente, o sistema previdenciário brasileiro”. Já a CUT alega que “propor algo assim é não se preocupar com as características do trabalhador brasileiro, que ingressa cedo na vida profissional, aos 14, 15 anos de idade. Se estabelecer a aposentadoria apenas por idade, vai fazer com que essas pessoas, justamente as mais pobres e que convivem com as piores condições de trabalho, precisem estar nas empresas durante 50 anos para obter esse direito”. Neste caso, “Dilma vaza”.

5 –Dilma não merece o apoio dado a ela na eleição e na questão do golpe. Por outro lado, o Brasil não merece a oposição que tem. Um grupo de políticos mais preocupado com o poder e o ego do que em transformar o país. Falam de corrupção, mas tem seu líder – Aécio Neves – denunciado frequentemente por causa de aeroportos e cotas de desvio de dinheiro. Detonam um partido, mas metem a mão em merenda, em construção de escola, em túnel de metrô. Gritam gestão, mas deixam faltar água, sobem impostos, batem em professores e estudantes e atrasam salários.  Esses definitivamente não merecem o apoio que têm.


#alfinetadadodia Começo a achar que o Brasil não tem o povo que merece 

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Uma divindade chamada Pelé

 Não gosto do Edson. Adoro Pelé. Edson foi um menino pobre que cresceu socialmente com o fruto do seu labor,  conquistando patamares imagináveis para um negro. Pelé já nasceu lapidado, senhor de si, um Buda. Edson, embora de fama, nunca exerceu sua influência para melhorar a vida ou denunciar os problemas daqueles que não tiveram mérito. Desde cedo foi cooptado. Pelé, embora negro, sempre esteve em campo a desafiar soberbas paulistas, brasileiras e européias. Desde cedo era um revolucionário. E Edson, de costas aos seus, abraçou e acariciou os poderosos, os ditadores, a turma de olhos azuis e sotaque gringo, o sonho dos outros. Edson era um cachorro de madame. Já Pelé exercia o fascínio na sua gente, na estima e nos brios, foi guerreiro, batalhador, fiel aos nossos princípios de leveza e alegria, um belo do futebol. Pelé era um vira-lata puro sangue. A Edson faltou um pouco de Diego, nas cagadas e façanhas. A Pelé, não faltou Maradona.

Deixemos, portanto, Edson de lado e concentremo-nos em Pelé, que é eterno. Aí, que me desculpem os argentinos, mas não há comparação em campo. Se querem compará-lo, que seja a Gardel, que elevou o espírito da plata rabiscando pelos salões, a Che, que ousou subverter a lógica e libertar o povo, assim como Pelé libertava o grito de gol em sucessivos  orgasmos coletivos.

A Pelé, com resquícios de Edson, para compará-lo, tem que ser a um Wagner, de sublime composição, mas suspeito de oprimir e servir de base para os arianos, a Ludwig, das tempestades sinfônicas e do desdém à corte. Pelé se compara a Picasso nos quadros, no improviso, não ao Pablo, que seria amigo de Edson. Pelé é Shakespeare do amor ideal, do drama, é Niemeyer ao antever o futuro e o lance, Pelé se compara a Cortázar do tipo de criatura fantástica que supera o criador.

Pelé não era Rei. Não há dádiva nenhuma em ser monarquia e cultivar súditos. É uma condição imutável com a qual não se tem controle. Se acostuma. Pelé é deus. Não essa divindade cristã, onipotente e onipresente. Essa figura infalível e distante da Terra. O Pelé Deus é grego. Forjado da união de Ares com Baco, apadrinhado por Iriana, abençoado por Oxalá e cativado por Obá. É aquele que põe nas canetas de Thor, que chapela Superman,  afundando um agonizante Goku. E sai para a comemoração com um soco para o alto, com o punho cerrado, como aqueles que amam a luta gostam de fazer, mandando energias para o universo e deixando por aqui mais um ano, o 75, do Edson Arantes do Nascimento.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Crônica: Um dia Detestável

 Muitos fatores podem contribuir para um dia detestável. O clima é um deles. Talvez o principal. Como o dia de hoje, pós feriado, em que o céu ganhou contornos gris, as nuvens lavaram a atmosfera e os colos ganharem echarpes. As palavras poéticas, no entanto, não amenizam o quanto esse tempinho fechado é desagradável. Basta por o pé para o lado de fora, antes da esquina, e se você não estiver de galochas, as meias já ficam todas molhadas. As calças e o vestuário de cima também. Um horror. Uma lástima que cresce em desprezo quando temos que nos equilibrar para andar segurando o guarda-chuva (ou GPS de poça) numa mão e o celular na outra. Que tristeza.

Mas esse dia detestável pode ser contornado com algumas medidas. Não vamos tratar aqui de carros, de táxi, de desmarcar compromissos, porque são benefícios da burguesia. Eu miro no povo. Naquele que se apequena no ponto de ônibus, que trabalha a pé, de bicicleta e afins. Para nós, nada melhor do que arrancar a roupa e tomar um bom banho. Assim, se desfaz o dia intolerante.

E é certo que um dia de chuva, para muitos, não é um tão detestável. Vide a galera "deboas", que pode até enxergar um benefício no aguaceiro. Chuva enche represa de água que está baixa. É um argumento bom, embora prefira que seja utilizado apenas no pé da serra.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

A equilibrista

- Cuidado com os olhos.

Foi o primeiro pensamento ao ver a mulher se equilibrando naquele instante. A plateia sempre olha esses lances com uma dose de agonia. A corda balançando, a equilibrista avançando, os pés trêmulos, o infinito da vergonha sustentado pelas redes abaixo.

Não lembro se quando era pequeno eu torcia pela queda ou pela chegada ao outro lado da fronteira. Agora, adulto, confesso nutrir uma pequena torcida pela tragédia. Ela é sempre mais gloriosa. Vencer causa-nos inveja. Ver os outros perderem nos conforta na mediocridade.

Enquanto filosofo, ela se equilibra. Não é na corda bamba. É no ônibus mesmo. Sentada. O coletivo a tremer como um varal na ventania. Mas ela sustenta bravamente um pequeno espelho numa mão e o delineador noutra. São dois olhos a brilhar. É como ir e voltar no picadeiro por caminhos diferentes. Não olha para os lados. Não pode sob o risco de riscar as sobrancelhas, o nariz. Mas observa, pela nuca, que todos acompanham seu ato heroico.

O espelho dá lugar ao pote. O pincel é reposto. Tudo treme. Mas ela não se borra, não mancha a camisa branca. Agora já torço pela sua vitória. Torço para que o motorista não dê aquelas freadas espetaculares na parada ou que arranque com suavidade. O mais perigoso já passou. A linha  da vergonha foi ultrapassada com louvor.


Ela utiliza um pequeno algodão para corrigir as imperfeições. É hora de tirar os excessos, afinal, ela é uma equilibrista, não uma palhaça. Ficou bom. Mas o público não aplaude quando ela termina. Sabe-se lá porque, depois de todo árduo trabalho, ela colocou óculos escuros e desceu.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

As coisas em seus lugares

As coisas em seus lugares

1.
Uma cadeira de balanço
sustenta um corpo
em que as idéias foram
encobertas por uma manta

Uma cadeira
Uma cadeira de balanço
Descanso