Dia desses, um malandro tinha completado quase toda a página da atual equipe campeã, a Fúria. Faltava-lhe apenas o marido da cantora Shakira. Não teve dúvida. Pegou uma revista antiga de
A brincadeira despertou minha imaginação. Também decidi montar meu próprio álbum de figurinhas. No entanto, ao invés de seguir o padrão de peladas de fim de ano, quando Neymar divide a bola com atores, jornalistas e personalidades, optei por montar seleções de não boleiros e distantes de nossa época. A dúvida que me marcava era se eu escalava os times por país, como ocorre na Copa do Mundo, ou por ramo de arte. Poderia montar, por exemplo, uma seleção de escritores brasileiros com Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Nelson Rodrigues, José de Alencar, Luís Fernando Veríssimo, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Ariano Suassuna e Cecília Meirelles, cujo técnico seja Buarque de Holanda. Já imaginou um confronto com Eça de Queiroz, Fernando Pessoa e seus heterônimos, Camões, José Saramago, Pero Vaz de Caminha? Ia ter vários gols de letra e palavras divididas. Contudo, ainda acho que seria interessante escalar uma fortíssima equipe sul-americana com Borges, Cortázar, Vargas Llosa, Garcia Marquez etc.
Este time da literatura teria concorrente de peso na música. Os caras iam se entender apenas com a batuta. Evidente que a base da seleção seria composta por jogadores da Rússia e Alemanha. Elenco com Tchaikovsky, Korsakov, Stravinsky e Rachmaninoff, Bach, Beethoven, Schumann e Wagner, e ainda com Chopin, Mozart e Dvorák.
Outro time do meu álbum que daria trabalho seria o da filosofia. Se é que eles passariam da primeira fase. Ninguém ia se entender. Mesmo assim, convocaria para as laterais Rousseau e Montesquieu, como zagueiros Sócrates, Platão e Aristóteles, como volantes Kant e Marx, armando Schopenhauer, no gol Spinoza e no ataque, surpreendendo a todos, Jesus e Buda.
Muito curioso seria definir o time da política. Sugiro dois, assim como a Alemanha dividida em 1974. Dessa maneira, haveria um time que todos poderiam torcer e outro que ninguém choraria se perdesse. No primeiro, estaria Martim Luther King, Mandela, Gandhi, Madre Tereza de Calcutá, Lula, Napoleão, Bolivar, Zumbi, Dalai Lama, Aung San Suukyi e Lincoln. Já no segundo (infelizmente é mais fácil de escalar) vestem a camisa de sangue Hitler e Mussolini, Saddam Hussein, Stalin, Cesar, Francisco Franco, Truman, Pinochet, Médici, Inocêncio IV e Bonaparte.
A lista de seleções é extensa. Dá pra fazer na pintura, na ciência, na arquitetura, na escultura, no teatro etc. Por outro lado, o que eu mais gosto deste álbum é que os atletas não precisam guardar posição no campo. Todos atacam e defendem-se com maestria. Outra coisa interessante é que nenhum deles requer ser campeão ao final do torneio. Vence sim o torcedor que em sua vida aprofundar os conhecimentos de pelo menos um craque. Ou melhor. Quem sabe, no futuro, erguer a plaquinha para entrar no lugar de alguém e ter sua foto colada em um canto de página.
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Manolo Ramires
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