segunda-feira, 8 de julho de 2013

Crônica: Ordem e gentileza, gentileza é progresso


 Sempre achei que a cortesia um dos principais traços de educação de um povo. Aquela velha máxima: gentileza gera gentileza. Um ditado que não se aprende na sala de aula e sim no cotidiano de nossas vidas. Uma demonstração clara desse comportamento podemos nos deparar nos coletivos de Curitiba e por ai afora, em que alguns assentos são destinados a idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo e portadores de necessidades especiais. Muitas vezes, esses locais estão ocupados por pessoas que não pertencem a esses grupos. Todavia, a simples solicitação do assento por aqueles que têm direito deve bastar para que um ‘jovem’ fique de pé. É a força da gentileza popular? Não, é o embaraço da lei.


Lei essa que desconheço ser aplicada nos assentos do aeroporto de Confins (Belo Horizonte). No caso que presenciei, a discussão começou em nome da cidadania. Foi durante o jogo do Brasil e Uruguai pela Copa das Confederações. Muitos sentados nos bancos, outros no chão e outra massa em pé. Um rapaz, que acompanhou o primeiro tempo no assento, deixou sua mochila marcando lugar enquanto buscava um lanche. Seu local também era protegido por outro desconhecido que antes tinha realizado mesmo processo. Ou seja, ponto para a troca de gentilezas. Mas, sabem como o público de aeroporto é perene. Logo um senhor grisalho se aproximou solicitando o lugar habitado pela mochila. Após rápida discussão com o “tutor da bolsa”, o postulante sentou-se em outra poltrona vazia. Em seguida, um negro solicitou o assento. Conquistou após defesa do senhor mais velho que, sagazmente, sabia que o ato poderia gerar confusão. Eis que o proprietário da mochila regressou e se espantou com a perda de lugar. Debate rápido. O negro se recusou a levantar. O senhor grisalho, alterando a voz, alegou ‘cidadania’. O outro rapaz lavou as mãos enquanto o dono da mochila partia para o fundo do saguão, recusando, antes, o assento de outro senhor que queria evitar a briga. E o detalhe deste episódio é que vinte minutos depois o “senhor cidadania”, que havia alegado não existir assento marcado na sala de embarque, foi embora, não oferecendo seu lugar pra ninguém.

Lei à parte, a compra de assento no avião também é uma tônica a ser respeitada. Antes do embarque, todos podem optar por onde ficar e alguns torcem por pessoas ausentes que deixem as poltronas da janela, do corredor ou da frente vazias para poder trocar de lugar. O problema é quando sobram menos poltronas do que postulantes, como ocorreu no voo para Curitiba. A primeira fileira sobrou. Ela é interessante por ter mais espaço à frente nos cada vez mais apertados aviões. A lógica da gentileza a designaria às mães com crianças pequenas, etc. Mas o critério do “eu cheguei primeiro” também pode ser utilizado por pessoas refinadas, que portam camisas bonitas, bolsas caras e óculos de aparência intelectual. Foi o episódio da moça que deixou seu lugar comprado pela poltrona não negociada. Já a mãe, com seus dois filhos, sendo um de colo, reivindicava o espaço em nome da necessidade. Mas a gentileza, sem critérios legais de preferência, custeio ou útero, não embarcou também nessa aeronave.

Por tudo isso, cabe indagar se a gentileza em períodos de patriotismo, de povo na rua, não é apenas uma convenção inconveniente? Parece-me que somos mais educados a ter tolerância, a nos suportar em nome da ordem do que sermos gentis.

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